segunda-feira, maio 02, 2011

Entrelinhas Amorosas

Uma nota, um dedilhado no violão. César ia anotando em seu caderninho e a cada nota, a cada palavra, sentia seu coração pulsar mais rápido, exalando seu sentimento através da canção que surgia. Naquela tarde de frio, César resolveu confessar seu amor escrevendo uma música. Em seu pensamento jamais tocá-la, ou apenas dizê-la à amada Odete. O "amor" se pudesse ser chamado por isso aquele sentimento, era considerado impossível ao seu ver. Resolveu levantar. Após horas sentado em sua poltrona, colocou o "companheiro", como assim chamava seu violão em cima da mesinha e foi até o armário. Perdida entre as últimas louças, lá estava a garrafa procurada : Martini. Pegou a garrafa e logo virou o último gole que restava da bebida. Parecia doce, mas não o suficiente. Levou a mão ao bolso e abriu a carteira. Lá estava a foto dela, um recorte de jornal. Odete, linda moça de cabelos cor do sol, musa inspiradora de sua canção. Não querendo olhar, levou a mão junto aos níqueis que lhe restavam e colocou-os no bolso da frente. Foi em direção ao porquinho que conservava intacto desde o início do mês. Não pensou duas vezes e jogou-o no chão. Mesmo agachado  contou o dinheiro. Exatos trinte e três reais. Pegou o casaco em cima do sofá e foi em direção à porta. Seu destino era qualquer bar. Andou uns trezentos metros parou. Pensou, pensou e decidiu : Não ia trocar mais o trajeto. Seguiu em frente. Resolveu atravessar a rua pra não dar na cara. E o inesperado mais previsível aconteceu : Odete estava na janela. E olhando perplexo para sua direção, seu coração acelerou. Não prestou atenção em mais nada. Perdeu o controle dos pés e parou. Os dois fixaram os olhares por alguns minutos e partiu dela um grito estridente que mais  lhe pareceu uma voz doce : - Oi ! Aquele simples oi foi a melhor coisa que lhe aconteceu durante aqueles meses. Já não sabia se mantinha esperanças ou se desistia, afinal foi um simples oi...

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